Secretaria de Relações do Trabalho
Coordenação-Geral de Relações do Trabalho
REFERENCIA: Processo n°. 46034000170/201 1-69
INTERESSADO: Assessoria Parlamentar
ASSUNTO: Lei n° 12.506, de 11 de outubro de 2011
NOTA TÉCNICA Nº 184 2012/CGRT/SRT/MTE
I. Introdução
Com advento da Lei 12.506, de 11 de outubro de 2011, publicada no Diário Oficial da União de 13/10/2011, que trata do aviso prévio proporcional, esta Secretaria, diariamente é demandada a esclarecer quanto aos procedimentos a serem adotados pelos empregadores e empregados nas rescisões de contrato de trabalho.
Em princípio esta Secretaria expediu o Memorando Circular n.° 10 de 2011, com o fito de orientar as Superintendências quanto aos procedimentos a serem adotados pelos servidores das Relações do Trabalho que exercem atividades relativas a assistência a homologação das rescisões de contrato de trabalho. Entretanto, passados seis meses da publicação da lei, diversos estudos, debates e discussões foram realizados acerca do tema. Dessa forma, a Secretaria observou a necessidade de apresentar a presente nota técnica sobre o tema em questão, com os seguintes posicionamentos:
II. Analise
1. Da aplicação da proporcionalidade do aviso-prévio em prol exclusivamente do trabalhador
Com base no art. 7°, XXI da Constituição Federal, entendemos que o aviso proporcional é aplicado somente em beneficio do empregado.
O entendimento acima se fundamenta no fato de que durante o tramite do projeto de lei, fica evidenciado o intuito do poder legiferante em regular o disposto no referido dispositivo. Ora, o dispositivo citado é voltado estritamente em beneficio dos trabalhadores, sejam eles urbanos, rurais, avulsos e domésticos.
Ademais, o art. 1° da Lei 12.506/11, é de clareza solar e não permite margem a interpretação adversa, uma vez que diz que será concedida a proporção aos empregados:
Ari. 1° O aviso prévio, de que trata o Capitulo VI do Título IV da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5. 452, de 1° de maio de 1943, será concedido na proporção de 30 (trinta) dias aos empregados que contem até 1 (um) ano de serviço na mesma empresa.
2. Do lapso temporal do aviso em decorrência da aplicação da regra da Proporcionalidade
O aviso-prévio proporcional terá uma variação de 30 a 90 dias, conforme o tempo de serviço na empresa. Dessa forma, todos os empregados terão no mínimo 30 dias durante o primeiro ano de trabalho, somando a cada ano mais três dias, devendo ser considerada a projeção do aviso-prévio para todos os efeitos. Assim, o acréscimo de que trata o parágrafo único da lei, somente será computado a partir do momento em que se configure uma relação contratual que supere um ano na mesma empresa.
Neste ponto especifico, após diversas conversações, esta Secretaria modificou o entendimento anterior oferecido por ocasião da confecção do Memorando Circular n.° 10 de 2011 (itens 5 e 6). Por isso, apresenta novo quadro demonstrativo, conforme abaixo:
Tempo de Serviço (anos completos) | Aviso Prévio Proporcional ao Tempo de Serviço (n° de dias) |
0 | 30 |
1 | 33 |
2 | 36 |
3 | 39 |
4 | 42 |
5 | 45 |
6 | 48 |
7 | 51 |
8 | 54 |
9 | 57 |
10 | 60 |
11 | 63 |
12 | 66 |
13 | 69 |
14 | 72 |
15 | 75 |
16 | 78 |
17 | 81 |
18 | 84 |
19 | 87 |
20 | 90 |
3. Da projeção do aviso prévio para todos os efeitos legais
Ressaltamos que o aviso prévio proporcional será contabilizado no tempo de serviço do trabalhador para todos os efeitos legais.
Nesse sentido, a projeção será devidamente levada em consideração, na conformidade do §1°, do art. 487 e Orientação Jurisprudencial da Seção de Dissídios Individuais -I n° 367, do TST, respectivamente:
“Art. 487
......
§1 A Falta do aviso-prévio por parte do empregador ao empregado 0 direito aos salários correspondentes ao prazo do aviso, garantida sempre a integração desse período no seu tempo de serviço. ” (grifamos)
“OJ 367. Aviso prévio de 60 dias. Elastecimento por norma coletiva. Projeção. Reflexos nas parcelas trabalhistas. O prazo de aviso-prévio de 60 dias, concedido por meio de norma coletiva que silencia sobre alcance de seus efeitos jurídicos, computa-se integralmente como tempo de serviço, nos termos do §1 do art. 487 da CLI; repercutindo nas verbas rescisórias.” (grifamos)
4. Da impossibilidade de acréscimo ao aviso-prévio em proporcionalidade inferior a três dias
Oportuno ainda ressaltar, que diante do disposto no parágrafo único do art. 1° da Lei em comento, pode nascer duvida quanto a possibilidade de o acréscimo ao aviso-prévio ser concedido inferior a três dias. Nessa hipótese, entende-se que tal compreensão não deve prosperar, uma vez que o regramento trazido pela lei não possibilitou tal hipótese.
5. Da impossibilidade de aplicação retroativa da Lei 12.506/11 e o Principio da Segurança Jurídica
Temos no ordenamento jurídico o principio do ato jurídico perfeito, insculpido no inciso XXXVI, do artigo 5°, da Constituição Federal de 1988, que consagra: "a lei não prejudica o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada Portanto, constitui ato jurídico perfeito o aviso prévio concedido na forma da lei aplicável a época da sua comunicação.
Também é princípio constitucional no Direito Brasileiro, o da legalidade, segundo qual, "ninguém será obrigado à fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei", garantido no inciso II, do artigo 5° da Constituição Federal, motivo pelo qual ao conceder o aviso-prévio sob a vigência da lei anterior, o empregador não estava compelido a regramentos futuros ainda não vigentes.
Temos ainda no ordenamento jurídico pátrio, o Principio tempus regil actum. Segundo este postulado, entende-se que a lei do tempo do ato jurídico é a que deve reger a relação estabelecida. Demais disso, é cediço que a lei não pode modificar uma situação já consolidada por lei anterior, salvo no caso de autorização expressa, o que não ocorre no presente caso.
Ademais, o art. 2° da norma informa que suas disposições entraram em vigor na data de sua publicação, ou seja, a partir de 13 de outubro do Corrente ano. Dessa forma, os seus efeitos serão percebidos a partir de tal data, não havendo a possibilidade de se aplicar 0 conteúdo da norma para avisos-prévios já iniciados. Desta feita, segue-se a regra de que é do recebimento da comunicação do aviso que se estabelece os seus efeitos jurídicos.
De mais a mais, não se desconhece o conteúdo do Parecer n° 570/2011/CONJUR-MTE/CGU/AGU, que sustenta ser a proporcionalidade incidente tanto sobre os avisos prévios firmados a partir da data da vigência da Lei n° 12.506/1 l, quanto em relação aos avisos prévios em curso naquela data.
Porém, por se tratar de matéria de alto grau de complexidade, pugna-se pela manutenção do entendimento atual desta Secretaria, enquanto nenhum posicionamento se configure como majoritário.
6. A Lei 12.506/11 e o disposto no art. 488 da CLT
Outra duvida que se apresenta, é acerca da aplicação da proporcionalidade ao disposto no art. 488 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, in verbis:
Art. 488 - O horário normal de trabalho do empregado, durante 0 prazo do aviso, e se a rescisão tiver sido promovida pelo empregador, será reduzido de 2 (duas) horas diárias, sem prejuízo do salário integral.
Parágrafo único - E facultado ao empregado trabalhar sem a redução das 2 (duas) horas diárias previstas neste artigo, caso em que poderá faltar ao serviço, sem prejuízo do salário integral, por 1 (um) dia, na hipótese do inciso 1, e por 7 (sete) dias corridos, na hipótese do inciso II do art. 487 desta Consolidação. (Incluído pela Lei n" 7. 093, de 25. 41983)
O dispositivo acima trata do cumprimento de jornada reduzida ou faculdade de ausência no trabalho durante 0 aviso-prévio. Todavia, a lei n.° 12.506/2011 em nada alterou sua aplicabilidade, pois que nenhum critério de proporcionalidade foi expressamente regulado pelo legislador. Assim, continuam em vigência redução de duas horas diárias, bem como a redução de 7 (sete) dias durante todo 0 aviso prévio.
Mais uma vez, não se desconhece o entendimento do Parecer n° 570/2011/CONJUR-MTE/CGU/AGU na questão, que defende a revogação da aplicação do parágrafo único do art. 488 da CLT, para os empregados com direito ao aviso prévio com duração superior a trinta dias. Entretanto, em que
pese o respeito por esse ângulo de visão, tem-se que 0 melhor posicionamento na questão é exposto pela Nota Técnica n° 35/2012/DMSC/GAB/SIT. Assim, para a Secretaria de Inspeção do Trabalho, tese a qual esta Secretaria já defendia por ocasião da assinatura do Memorando Circular n.° 10 de 2011, o trabalhador poderá optar pela hipótese mais favorável entre as oferecidas pelo parágrafo único do art. 488 da CLT quando da hipótese de aviso prévio proporcional.
7. A Lei 12.506/11 e o disposto no art. 9° da Lei 7.238/84
Por derradeiro, no que tange a indenização devida ao trabalhador no caso de dispensa ocorrida nos 30 dias que antecedem a data-base da categoria, prevista no art. 9° da Lei n.° 7238, de 29. 10. 1984, que assim dispõe:
“Art. 9° - O empregado dispensado, sem justa causa, no período de 30 (trinta) dias que antecede a data de sua correção salarial, terá direito a indenização adicional equivalente a um salário mensal, seja ele optante ou 1/160 pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS. ”
Na hipótese, compreende-se que o aviso-prévio proporcional devera ser observado em sua integralidade para a verificação da hipótese. Desta feita, a lei sob comento, não alterou esse entendimento. Assim, recaindo o término do aviso prévio proporcional nos trinta dias que antecedem a data base, faz jus o empregado despedido à indenização prevista na lei 7.238/84.
III. Conclusão
Em síntese, estes são os entendimentos que submete-se a consideração superior para fins de aprovação:
1) a lei não poderá retroagir para alcançar a situação de aviso-prévio já iniciado;
2) a proporcionalidade de que trata 0 parágrafo único do art. 1° da norma sob comento aplica-se, exclusivamente, em beneficio do empregado;
3) o acréscimo de 3 (três) dias por ano de serviço prestado ao mesmo empregador, computar-se-á a partir do momento em que a relação contratual supere um ano na mesma empresa;
4) a jornada reduzida ou a faculdade de ausência no trabalho, durante o aviso prévio, previstas no art. 488 da CLT, não foram alterados pela Lei 12.506/11;
5) A projeção do aviso prévio integra 0 tempo de serviço para todos os fins legais;
6) recaindo o término do aviso prévio proporcional nos trinta dias que antecedem a data base, faz jus o empregado despedido a indenização prevista na lei n° 7.23 8/84; e
7) as clausulas pactuadas em acordo ou convenção coletiva que tratam do aviso prévio proporcional deverão ser observadas, desde que respeitada a proporcionalidade mínima prevista na Lei n° 12.506, de 2011.
EDER BARBOSA RAMOS
Agente Administrativo
De acordo.
Encaminha-se a Senhora Secretaria de Relações do Trabalho, para apreciação.
Brasília, 07 de maio de 2012.
ANDRÉ LUIS GRANDIZOLI
Secretário-Adjunto da Secretaria as Relações do Trabalho
Aprovo o conteúdo da NOTA TÉCNICA Nº 184/2012/CGRT/SRT/MTE.
Encaminhe-se cópia desta as Seções de Relações do Trabalho para conhecimento e providências. Dê-se ciência aos integrantes do Conselho de Relações do Trabalho.
Brasília, 07 de maio de 2012.
ZILMARA DAVID DE ALENCAR
Secretária de Relações do Trabalho